A lei do fora de jogo

A lei do fora de jogo

A lei do fora de jogo

No futebol existem 17 regras, e talvez nenhuma seja tão famosa como o regra onze, a regra que sanciona o fora-de-jogo. Todas as semanas, por todo mundo, adeptos discutem apaixonadamente as diversas incidências da partida onde participaram as suas equipas, e juntamente com a regra 14 - aquela que define o que é um penálti - a lei do fora-de-jogo é das que mais discussões levanta, semana após semana, nos «cinco cantos do mundo». Mas o que é um fora-de-jogo? Conhece a regra e a sua história?

As regras de Cambridge
 
Antes de analisarmos a regra, façamos uma pequena viagem no tempo... O futebol nasceu em Inglaterra na primeira metade do século XIX, disputado em escolas e universidades de norte a sul da ilha, cada uma com a sua regra e os seus costumes.  
 
A diversidade das regras dificultava a evolução do jogo, e impedia que os jogadores quando regressavam a casa disputassem o jogo com os amigos provenientes de outras escolas e universidades, pois cada um trazia consigo o seu próprio conjunto de regras, gerando amiúde as mais diversas confusões.
 
Trinity College na Universidade de Cambridge, Inglaterra. Local onde se realizou a primeira reunião com o objetivo de criar as leis unificadas do jogo.
Em 1848, em Cambridge, representantes de diversos colégios e universidades, reuniram-se no Trinity College por intermédio de H.C. Malden, com o intuito de criarem as primeiras regras comuns. Desse longo fim de tarde e princípio de noite que ficou marcado na história do futebol como seu acto fundador, já não existe o documento original ou nenhuma cópia, mas é ponto assente que pela primeira vez as leis do futebol ficaram definidas e a regra do fora-de-jogo ficou bem delineada.
 
Um exemplar (c. 1856) de uma versão das regras de Cambridge,encontrado mais de cem anos depois na biblioteca da escola de Shrewsbury, é claro quando indica no artigo dedicado à então lei número nove:
 
«Se a bola passou por um jogador e veio da direção da sua própria baliza, ele não poderá tocá-la até um adversário ter tocado na bola, a menos que existam mais de três jogadores entre ele e a linha de golo. A nenhum jogador é permitido permanecer entre a bola e a baliza dos adversários. »
 
Apesar da adoção das novas regras, os rapazes que voltaram a casa com as novas leis de Cambridge não conseguiram na maioria dos casos convencer os seus amigos e antigos companheiros a adopta-las na totalidade, deixando o futebol numa confusão de normas em que alguns jogavam um género de futebol onde predominava o drible e o passe para frente, enquanto outros se inclinavam para o jogo com as mãos e as placagens, algo que seria mais parecido com o rugby dos nossos dias. 
 
Não obstante o esforço dos representantes das escolas de Eton, Harrow, Rugby, Winchester e Shrewsbury, o futebol ia ganhando novas regras, muito por culpa dos novos clubes que iam surgindo fora do mundo académico, espalhando o jogo pelo mundo anglo-saxónico, e pelas «sete partidas» do Império Britânico.
 
As regras de Sheffield
 
Em Sheffield existia também um conjunto de regras em que não havia lugar para a lei do fora-de-jogo, e se permitia o passe para a frente, chamado de kick-trough, e que só anos mais tarde, com o intuito de se aproximar das regras que tinham saído de Cambridge, os de Sheffield aceitaram a inclusão de uma regra que «pedia» apenas a existência de um adversário entre a bola e a linha de golo.
 
Gravura sobre o primeiro Inglaterra x Escócia, disputado a 5 de fevereiro de 1872, no The Oval em Londres.
Em Sheffield e por todo o  Yorkshire, em Lancanshire, nas Midlands, em redor das grandes cidades industriais como Birmingham, Manchester ou Liverpool, surgiram diversos clubes, formados maioritariamente por trabalhadores da indústria ou dos caminhos-de-ferro, que nunca tinham passado pelas Public Schools (Colégios públicos de educação de qualidade), muito menos pelas escolas privadas ou as Universidades, de onde provinham os principais defensores das regras de Cambridge. Este massa operária e a pequena burguesia, amante do jogo de fim de semana, sentia mais facilidade em praticar as regras de Sheffield, abdicando quase sempre da lei do fora-de-jogo.
 
Os apoiantes de Sheffield fundariam oSheffield Football Club em 1857, que é reconhecido pela FIFA como o mais velho clube do mundo. Anos mais tarde, em 1867, fundariam a Sheffield Football Association, para unificar e associar todos os clubes que jogavam segundo as regras de Sheffield.
 
O encontro na Freemason's Tavern
 
Entre outubro e dezembro de 1863, na Freemason's Tavern no centro de Londres, por intermédio de Ebenezer Cobb Morley, representantes de diversos clubes londrinos e dos arredores, aceitaram estabelecer um conjunto de leis, baseadas nas regras de Cambridge e fundar a Football Association.
 
As leis de 1848 foram preservadas na sua esmagadora maioria, com a exceção da permissão de jogar a bola com as mãos e a possibilidade de efetuar tackles sobre os adversários, para deceção do representante de Blackheath, que abandonou a reunião em desagrado, sem não antes dizer que a eliminação do jogo físico «iria acabar com toda a coragem e bravura do jogo», e adiantou que seria «obrigado a trazer um monte de franceses» que iriam ser capazes de bater os represantantes dos restantes clubes só uma semana de treino. 
 
As reuniões no Freemason's Tavern marcaram a ruptura definitiva entre os apoiantes do futebol e do rugby. O representante de Blackheath abandonaria a Football Association, para tornar o Blackheath o dinamizador do jogo da bola oval.
Os franceses nunca vieram para demonstrar a sua teoria, mas Blackheath abandonou a Football Association e preservou as antigas regras, num ato de ruptura que ajudou a separar definitivamente o futebol do seu primo que ainda hoje é jogado com a bola oval. 
 
Até aí, a lei do fora do jogo, tal como hoje acontece no Rugby, penalizava qualquer jogador que se encontrava à frente da bola, mas a partir desse momento passou a ser sancionado como falta qualquer passe para a frente quando havia «pelo menos» três jogadores entre a bola e a baliza adversária. A alteração do «mais de» - que mencionvam as regras de Cambridge - para  o «pelo menos» três jogadores indicados nas novas regras, era uma concessão aos apoiantes das regras de Sheffield, na tentativa de unificar as regras da Football Association com regras com que jogavam os apoiantes da norma de Sheffield.
 
O Século XX e a unificação
 
Em 1886 surgia o International Board, órgão supremo, destinado a legislar sobre a modalidade, e que incluía membros da Football Association e das correspondentes e recém formadas federações da Escócia, País de Gales e Irlanda. A FIFA nasceria um pouco mais tarde, em 1904, em Paris, por intermédio de Jules Rimet, e só mais tarde integraria também o organismo (1913) .
 
Freemason's Tavern, na City de Londres, o berço da Football Association.
Durante o século XX, a regra do fora-do-jogo voltaria a sofrer alterações. A primeira das quais surgiu em 1907 e passou a não sancionar o fora-de-jogo enquanto os jogadores se encontravam ainda no seu próprio meio campo.
 
Mais tarde, em 1925, os últimos defensores da norma de Sheffield e a Football Association acordaram por fim que a regra evoluiria para apenas dois jogadores entre a bola e a linha de golo, aproximando a regra da que conhecemos atualmente.
 
A última alteração remonta apenas aos anos noventa, quando passou a não ser considerado fora-de-jogo estar em linha com um ou os dois adversários que separam o jogador da linha de golo. Num objetivo de permitir uma maior obtenção de golos. 
 
A regra atual
 
A lei onze é clara quando afirma que «um jogador está em fora-de-jogo se estiver mais perto da linha de golo do adversário do que a bola e o penúltimo oponente».
 
Nunca será fora-de-jogo se o jogador estiver no seu meio campo; se o passe for efetuado para trás; se este estiver em linha com o penúltimo ou os dois adversários que restam entre a bola e a linha de golo.
 
Pode provocar alguma confusão a ideia da lei mencionar dois adversários, isto porque o guarda-redes raramente abandona a baliza, e como tal, tornou-se hábito apenas contar com o último defesa, dando como adquirido que o guarda-redes está entre os postes, mas em todo o caso, essa interpretação só é válida se o guarda-redes for um dos jogadores que se encontra entre a bola e a linha de baliza, pois este terá sempre a liberdade de abandonar a baliza e a sua área.
 


 
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