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Benfica

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Nas traseiras da farmácia

O clube que um dia disseram ter seis milhões de adeptos nasceu humildemente a 28 de Fevereiro de 1904 nas traseiras da Farmácia Franco em Belém. Foram 24 os fundadores do Sport Lisboa, como tão bem atesta a lista redigida com 23 nomes por Cosme Damião, que curiosamente esqueceu de se incluir ao rol, onde ficaram gravados para a posteridade o nome dos "pais fundadores" nação encarnada.

Foi na Famácia Franco, em Belém, Lisboa, que se reuniram os fundadores do Sport Lisboa, a 28 de Fevereiro de 1904

Os fundadores escolheram o vermelho como cor das camisolas, elegeram a águia como símbolo e optaram pelo mote “e pluribus unum” [de todos, um], locução erroneamente atribuída ao poeta latino Virgílio, que curiosamente também acompanha a águia no selo nacional dos E.U.A.

Fundado por jovens de Belém, ex-alunos da Casa Pia e membros da Associação do Bem, o Sport Lisboa viveu nos primeiros anos da carolice e da enorme dedicação de Cosme Damião, dos irmãos Catatau (Rosa Rodrigues) e Manuel Golarde, empregado da Farmácia Franco, entre outros sócios fundadores, que se uniram para adquirir a primeira bola, o primeiro livro de regras e um par de redes para as balizas comprados aos pescadores da Nazaré.

Os primeiros jogos e a rivalidade com o Sporting

Começando a dar os primeiros pontapés no descampado onde viria a ser construída nos idos de quarenta a Praça do Império, e em baldios da zona de Belém, os membros do Sport Lisboa cedo elegeram as Salésias como palco privilegiado dos seus encontros.

O primeiro jogo seria disputado no primeiro dia de 1905 contra o Campo de Ourique, sorrindo a vitória aos encarnados por 1x0.

Rapidamente o Sport Lisboa tornou-se num dos melhores clubes portugueses da cidade rivalizando com o CIF da família Pinto Basto - introdutores e grandes dinamizadores do futebol em Portugal.

Após várias vitórias contra equipas portuguesas o Sport Lisboa perdeu por 0x7 com os ingleses do Carcavelos, ficando demonstrada a enorme distância que então havia entre praticantes ingleses e portugueses.

Em 1907 em consequência de uma crise, e sem campo próprio para jogar, o Sport Lisboa vivia momentos atribulados. Tudo parecia encaminhar-se para o fim quando oito dos seus jogadores resolveram mudar-se de armas e bagagens para o Sporting, clube fundado no ano anterior, que oferecia por aqueles dias as melhores condições de todo o país.

Estavam criadas as condições para a histórica rivalidade com os verde-e-brancos. A 1 de Dezembro de 1907 disputa-se o primeiro derby da história, com a vitória a sorrir aos leões por 2x1.

A fusão entre o Sport Lisboa e o Grupo Sport Benfica

Sem campo,mas com uma valorosa equipa, o Sport Lisboa foi aprofundando relações com o Grupo Sport Benfica, clube dessa zona da cidade da cidade que dispunha de um belo campo, mas que não tinha jogadores para criar uma equipa de futebol.

Um clube com uma boa equipa e sem campo, e um clube com campo mas sem equipa, tornou-se óbvio para os membros dos dois clubes fundirem-se num só, adoptando o vermelho e a águia do Sport Lisboa, juntando-lhe a roda de bicicleta do Benfica e escolhendo o nome de Sport Lisboa e Benfica.

Durante décadas o Benfica foi crescendo e ganhando adeptos em toda e cidade e pelo país fora, tornado-se o clube mais popular de Portugal, mesmo que nesses tempos o Sporting em Lisboa e o FC Porto na invicta fossem de facto as melhores equipas do país.

Os primeiros troféus e a Taça Latina

Os encarnados conquistaram o seu primeiro troféu nacional em 1929/30 quando venceram o Campeonato de Portugal. Durante a década de 30 e 40 foram juntando mais Campeonatos de Portugal ao palmarés, assim como três Campeonatos da I Liga conquistados de uma assentada, no primeiro "tri" do futebol nacional.

Curiosamente o Benfica é o clube com mais tricampeonatos conquistados no futebol nacional, tendo o conseguido em cinco ocasiões distintas, mas nunca conseguiu ao contrário de portistas e sportinguistas conquistar um penta ou um tetra.

Nos anos 40 e 50 o clube vive um pouco à sombra do Sporting que com os seus famosos cinco violinos é uma espécie de "papa-troféus" do futebol nacional por esses tempos.

Não obstante o domínio leonino, em 1950 são os encarnados que conque valeu a vitória na Taça Latina.

As Taças dos Campeões

O Capitão José Águas levanta a Taça dos Campeões: o Benfica tornou-se bicampeão europeu em 1960/61 e 1961/62, quebrando a hegemonia do Real de Madrid

Em 1957 os benfiquistas estreiam-se na Taça dos Campeões, mas seria só em 1961 que comandados pelo carismático treinador húngaro Béla Guttmann e com uma bela equipa de onde se destacavam o guarda-redes Costa Pereira, o “inultrapassável” Germano, os grandes Santana e Cavém, Coluna e o capitão e goleador José Águas que o Benfica chegou à final da Taça dos Campeões em Berna.

Contra um grande Barcelona que tinha cometido o feito de eliminar o Real - tão só pentacampeão europeu, os encarnados venceram 3x2 com muita luta e sofrimento, e com a indispensável sorte que protege os campeões. O Benfica vindo de um pequeno país que nunca tinha conseguido um feito desportivo era campeão da Europa para espanto do mundo.

Um ano depois em Amesterdão o Benfica defendia o seu título contra o grande Real de Puskas e Di Stéfano e companhia. Mas em Amesterdão o Benfica já contava com um miúdo que tinha chegado um ano antes de Moçambique: Eusébio da Silva Ferreira, que neste jogo apontou dois dos cinco golos com que o Benfica se superiorizou aos três do Real.

Bicampeões da Europa, senhores do futebol nacional e europeu, o Benfica entrava para história da modalidade acabando de vez com o domínio madridista no futebol europeu.

Benfica: crónico campeão nacional

Estátua de Eusébio da Silva Ferreira, em frente do Estádio da Luz, Lisboa

Durante a década de 60 o clube voltou a chegar a mais três finais europeias, tendo as perdido para Milan, Inter e Manchester United. O Benfica de sessenta era uma equipa de sonho que encantava Portugal, a Europa e o Mundo. Com Germano a dar segurança ao reduto defensivo, tendo Coluna como líder da orquestra e com uma Pantera Negra felina à solta na frente, brilhantemente secundada por artistas da classe e gabarito de José Augusto, Simões e Torres, o Benfica não foi só uma das melhores equipas portuguesas de sempre, como foi certamente uma das melhores equipas da história do desporto rei a nível mundial.

Não admira que a nível interno o Benfica na sua década dourada se destacasse dos rivais no número de troféus conquistados, ao ir conquistando três campeonatos de cada vez, sempre interrompidos pelo campeonato da praxe leonino.

Líder incontestado do futebol português o Benfica tornou-se uma instituição nacional, sendo de longe o clube com mais adeptos no país e na diáspora. Dizia-se em jeito de adágio popular que o bom pai de família tinha de ser benfiquista. E Eusébio foi elevado a condição de embaixador português tal como Amália e o Vinho do Porto.

O regime, como todos os regimes, usou o desporto em seu proveito, e quem mais do que o Benfica que como maior clube do país e amado pelo povo para servir de bandeira?

Entretanto chegou a democracia sob o auspício vermelho dos cravos... Nos campeonatos do pós-25 de Abril os benfiquistas continuaram a dominar a seu bel-prazer o futebol indígena. Mário Wilson dizia acerca desses tempos que qualquer treinador se arriscava a ser campeão quando treinava o Benfica. E essa era a mais pura das verdades até que ventos soprados do norte começaram a mudar o tom da história...

Tempos de transição

Humberto Coelho, grande capitão benfiquista das décadas de 70 e 80 ©Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol

A rivalidade Porto-Benfica começa verdadeiramente nos anos 80, depois de Pinto da Costa tornar-se líder dos Dragões e rapidamente os dragões substituem os leões como principais rivais das águias.

Se Julinho e Arsénio tinham de se haver com Peyroteo e companhia, Eusébio e Coluna com Damas e Hilário, E Humberto Coelho e Nené com Yazalde e Keita, agora era a vez de Bento, Chalana, Diamantino e companhia defrontarem Gomes, João Pinto e colegas, as grandes equipas benfiquistas que durante anos tinham no Sporting o rival, agora tinham de se preocupar com um adversário mais a norte: o FC Porto.

Em 1979 os encarnados foram o último clube português admitir estrangeiros na equipa. O primeiro de uma lista que inclui nomes como Preud'homme, Aldair, Ricardo Gomes, Thern, Mozer, Magnunsson, Poborsky, Pierre van Hooijdonk, Di Maria ou Saviola foi o pouco mediático ex-boavista Jorge Gomes.

De novo nas finais europeias

Liderados por Sven-Göran Eriksson o Benfica chegou à final da Taça UEFA que perdeu para o Anderlecht em 1982/83.

Anos mais tarde às águias voltariam a chegar à final da Taça dos Campeões para jogar com PSV (1988) e AC Milan (1990).

Primeiro em Estugarda e depois em Viena, a velha maldição de Guttmann - que tinha garantido que sem ele o Benfica não ganhava mais nenhuma Taça dos Campeões nos cem anos seguintes - continuou a cumprir-se e o Benfica, primeiro no desempate por grandes penalidades e depois por culpa de um golo solitário de Frank Rijkaard voltou a conhecer o travo amargo da derrota numa grande final.

Com sete presenças em finais da TaçaLiga dos Campeões o Benfica é um dos clubes europeus que mais disputou o grande jogo, só sendo superado por Real, AC Milan e Bayern München.

Na frente interna os anos 80 foram anos de disputa taco a taco com os dragões, num quase “ora agora ganho eu, ora agora ganhas tu”. Mas em 1987 surgiu a até então pior derrota da história benfiquista, em Alvalade uma derrota por 7x1 deixou os benfiquistas incrédulos, sem contudo impedir que o clube acabasse a época como campeão.

Em 1991 o sueco Eriksson guiou a equipa a mais um campeonato, longe de imaginar que desde essa data o Benfica só conquistaria mais um título até ao final da década; seria em 1993/94 quando um genial João Vieira Pinto demoliu em pleno estado de Alvalade o sonho leonino de interromper o jejum de campeonatos com um hattrick numa histórica vitória por 3x6.

Anos de desvario: a gestão Vale e Azevedo

Para terminar uma época penosa que viu o FC Porto sagrar-se pentacampeão nacional e o Sporting quebrar o jejum, a 25 de Novembro de 1999 em Vigo contra o Celta local o Benfica sofreu a derrota mais pesada da sua história, perdendo por 7x0 para profunda tristeza dos seus adeptos que tinham enchido as bancadas dos Balaídos.

Mas para tristeza dos milhões de adeptos encarnados o Benfica ainda não tinha batido no fundo, e o consulado de João Vale e Azevedo custou ainda um 6º lugar no campeonato e dois anos sem presença nas competições europeias.

Os adeptos enchem o Marquês de Pombal em Lisboa para festejar mais um título «encarnado»



Um novo Estádio da Luz e de novo campeão

Mas como em todas as grandes histórias o Benfica voltou a erguer-se... Construiu um novo Estádio, o maior de Portugal! Onde um ano depois quebrou o jejum de 11 anos sem ser campeão. Foi uma explosão vermelha e branca que contagiou o país, mostrando a tudo e a todos a grandeza da massa associativa benfiquista. Do Minho ao Algarve literalmente milhões encheram as principais artérias do país festejando Simão Sabrosa, Nuno Gomes, Luisão, Petit e companhia.

A mesma festa e o mesmo fervor acompanhou os benfiquistas quatro anos depois, quando sob a batuta de Jorge Jesus um Benfica com alta “nota artística” conquistou o ceptro pela 32ª vez.

Hoje, como sempre, milhões de corações palpitam mais forte quando as camisolas berrantes entram nos campos deste país. O Benfica, instituição centenária, potência nacional de primeira grandeza, campeão de diversas modalidades, casa de alguns dos maiores atletas da história desportiva de Portugal, tem talvez o mais precioso dos títulos, o ser o mais amado dos clubes portugueses.

 
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